Semana Tereza de Benguela, em Cabo Frio, discute políticas públicas para mulheres negras

Programação começou nesta sexta-feira (23) e vai até quarta (28)

Com discursos voltados para a luta contra a discriminação à mulher, notadamente contra as mulheres negras, trans, travestis e periféricas, foi oficialmente aberta, nesta sexta-feira (23), a programação da Semana Tereza de Benguela. Promovida em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha, oficialmente comemorado dia 25 de julho, a programação segue até o próximo dia 28 com atividades virtuais e presenciais, em homenagem à mulher negra que no século XVIII liderou o Quilombo Quariterê, na fronteira entre Mato Grosso e Bolívia.

Sob a organização da Coordenadoria Geral de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com as Secretarias de Governo e de Direitos Humanos e Segurança, a programação foi aberta pela primeira-dama de Cabo Frio, a psiquiatra Ana Lúcia Valladão, que em discurso reforçou a importância do evento.

“É muito importante, muito emocionante estar aqui, hoje. Que possamos inaugurar não somente uma cerimônia formal, mas um momento de trabalho que se perpetue, que se transforme numa política permanente no nosso município. Que a gente consiga, realmente, fazer valer aquilo que a gente acredita, que é a luta de todas as mulheres, principalmente as negras. Vocês são eu, eu sou vocês, e estamos juntas nessa luta. E viva o povo negro”, discursou Ana.

A coordenadora de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais, da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, Carolina Conceição, aproveitou o momento para destacar a importância de Tereza de Benguela, e lembrar que o quanto é necessário e urgente a realização do evento que marca a semana das mulheres negras, comemorado em toda a América Latina, neste domingo (25).

“Costumo dizer que datas como esta, e como o 20 de novembro, não são apenas comemorativas. É mais um dia para lembrarmos que negros e negras precisam lutar. Depois de quase 400 anos de liberdade, ainda temos que pedir que nossos opressores parem de nos matar. Não queremos tomar o espaço de ninguém: queremos apenas o que é nosso”, afirmou.

Defendendo a liberdade e os direitos de mulheres trans, travestis, negras e periféricas, a transsexual Ágatha Íris lembrou de Xica Manicongo, a primeira travesti negra do Brasil, símbolo de resistência e luta para a comunidade LGBTI+.

“Ela foi trazida do Congo na época do Brasil colonial, e aqui foi escravizada por um sapateiro, e por conta da inquisição no país, foi inibida da sua própria travestilidade. E a partir disso fica a pergunta: quais são as vozes de mulheres pretas que são visibilizadas, ouvidas? Na maioria das vezes, mulheres pretas com deficiência, mulheres pretas gordas, mulheres pretas trans, travestis, são apagadas, são caladas, e são vítimas de violência. Hoje, 90% da população trans tem que se prostituir porque é a única condição de vida, e 82% sofre exclusão escolar. Então, se não pensarmos intersexualmente, morreremos coletivamente. Por isso, mulheres trans, pretas, travestis, periféricas, precisam, sim, se unir”, reforçou Ágata.

A secretária de Direitos Humanos e Segurança, Aglaia Olegário, também fez uso da palavra, e lembrou que nos anos 1990 havia apenas 8% de mulheres na liderança de empresas e serviços públicos, que no início dos anos 2000 esse número chegou a 14%, e hoje esse número é de cerca de 40%.

“Mas, ainda assim, precisamos repensar nossa maneira e mudar o rumo dessa história, porque temos condições, capacidade e poder de liderança, e precisamos nos apropriar desse direito. Hoje, esse evento se torna um marco na história de Cabo Frio, porque não temos apenas que falar de políticas públicas para mulheres, e mulheres negras: temos que fazer”, defendeu a secretária.

Também fizeram uso da palavra a professora de Língua Portuguesa, Mariana Freitas; a psicóloga Sulamita Rangel; a superintendente de Gestão de Saúde da Secretaria de Saúde de Cabo Frio, Sofia Benedito; a pedagoga Thaís Rodrigues; a engenheira ambiental e sanitarista do quilombo Maria Romana, Alessandra Rangel; a secretária adjunta de Direitos Humanos, Carla Rodrigues, e a chefe de gabinete da Prefeitura de Cabo Frio, Tainara Oliveira.

Encerrando o evento de abertura, o prefeito José Bonifácio defendeu que o currículo escolar na rede municipal de Cabo Frio trate sobre a história da África e de seus descendentes.

“Esse é um desafio que assumi no nosso governo, e que foi reforçado através da Jornada da Integração Cabo Frio – África. Desde sempre só aprendemos sobre a história europeia, mas nosso país foi construído pelos negros, escravizados. E na nossa visão de homem branco, a gente não entende pelo o que eles passaram e passam até hoje. A minha mulher é negra, e sempre que a gente sai, a primeira preocupação dela é se está com todos os documentos. E aí eu digo ‘pra que isso?’, e ela responde ‘você não é negro, não sabe o que acontece com um negro se ele for parado na rua e estiver sem documentos, você não sabe o que é passar por preconceito por causa da sua cor de pele”, e aí sou obrigado a me calar porque ela está certa. Por isso, eu só quero agradecer muito à participação de todas vocês, mulheres negras, incríveis, competentes, guerreiras, que me ensinaram muito hoje e estão sempre me ensinando. Aliás, todos os brancos deste governo deveriam estar aqui, agora, ouvindo todas essas histórias e aprendendo com vocês”, contou o prefeito.

A SEMANA TEREZA DE BENGUELA

A programação continua até quarta-feira (28). Neste sábado (24), uma transmissão ao vivo vai debater a organização de mulheres negras e a contextualização de lutas pela comunidade. Já no domingo (25), um encontro presencial vai elaborar um documento base com o tema “Mulher Negra e Políticas Públicas: Medidas e Ações para a comunidade negra”. A atividade acontecerá na sede da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança, no bairro São Cristóvão, às 9h30, com participantes de diversas secretarias municipais. O encontro será encerrado com uma roda de capoeira do grupo Mulheres Rumpi.

Com o tema “Saúde da População Negra em Cabo Frio”, na segunda (26), às 10h, um comitê técnico fará uma análise das condições e necessidades da população negra. O encontro, que acontecerá na Prefeitura, também vai iniciar a campanha de esclarecimentos sobre as principais doenças que atingem essa população. Ainda no dia 26, às 15h, o evento vai promover uma conferência on-line com as psicólogas Bárbara Gonzaga e Sulamita Rangel.

Na terça-feira (27), às 10h, também de forma virtual, será realizada uma oficina sobre mercado de trabalho, com o tema “Empreendedorismo das Pretas”, com as palestrantes Michele Silva e Daiane Pimentel. Na parte da tarde, às 15h, uma oficina de turbante será apresentada aos participantes, com Francine Olegário e Raoana Santos.

Finalizando a programação, na quarta (28), às 10h, uma palestra on-line vai debater o tema “Mulheres Negras na Cultura e na Educação: Uma Luta por Visibilidade”, com Mariana de Freitas, Rafaela Solano e Fábia Pereira.

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